sábado, 18 de julho de 2009

O ESCÂNDALO DA CRIAÇÃO DE UM CURSO CHAMADO DE BIOMEDICINA NA UFMG

Acabo de tomar conhecimento pela televisão de triste e inacreditável notícia: A UFMG ESTÁ CRIANDO UM CURSO DE BIOMEDICINA! Faço aqui uma advertência pessoal, ditada por minha amizade a alguns dos respectivos responsáveis. Se a notícia for verdadeira e se a diretoria da Faculdade e sua Congregação nada fizeram contra tamanha leviandade, então a memória da instituição e das pessoas omissas estará irreversivelmente manchada. Isso se aplica igualmente à Associação Médica de Minas Gerais, ao Conselho Regional de Medicina, ao Sindicato dos Médicos e à Academia Mineira de Medicina – extensivamente a cada um e a todos os respectivos membros.



NEUSA VILELA, ANÍBAL SALGADO, EDWARD TONELLI, SÔNIA SHIRLEY E EXPEDITO VILELA FORMAM-SE NO SÃO JOSÉ

Em dezembro de 1955 o Ginásio São José de Nepomuceno diplomou famosa turma cujo convite de formatura é uma preciosidade histórica que divulgamos acima, graças à gentileza da Maria Aparecida Lourençoni.

quinta-feira, 16 de julho de 2009


OS CEM ANOS DO MÉDICO CARLOS CAIAFA FILHO
João Amílcar Salgado
Carlos Caiafa Filho diplomou-se em medicina na atual Universidade Federal de Minas Gerais, em 1934. Isso significa ter ele alcançado um dos momentos mais altos do ensino na Faculdade, alma máter de figuras hoje reverenciadas na história, na ciência, na educação e na medicina, mineiras e brasileiras. De fato, de 1925 a 1935 graduaram-se aí homens como Lucas Machado, Silviano Brandão, Caio Líbano, Juscelino Kubitschek, Pedro Nava, Pedro Sales, Odilon Behrens, José Ferolla, Amílcar Martins, Valdemar Versiani, Orestes Diniz, Guimarães Rosa, Ageu Murta, Josefino Aleixo, Rubem Ribeiro, Osvaldo Costa, Flávio Neves, Sebastião Mesquita, Sócrates Veiga, Manuel Campanário, Vicente Vono, Hilton Rocha, Berardo Nunan, Moura Gonçalves, Aloísio Neves e Noronha Peres. Quando entrou na Faculdade, Juscelino e Nava tinham acabado de sair, mas, em compensação, enquanto era primeiro e segundanista, João Guimarães Rosa era quinto e sextanista.
Na turma de Carlos Caiafa Fo sobressaem Aristóteles Brasil, Ernesto Ayer, Evandro Barros, Henrique Horta, Javert Barros (por sinal, paraninfo de minha turma, que saudei como orador), Bolivar Drummond, Lúcio Nelson de Sena e Oswino Pena So. Dois outros merecem citação especial: Mário de Castro, craque de futebol, e Paulo de Castro Miranda, que foi baleado no conflito entre os estudantes e o reitor Mendes Pimentel, em 1930. Caiafa Filho, então segundanista, foi um dos líderes nesse conflito. A esse propósito, entre os dois Castro (Mário e Paulo) há um fato em comum: se Paulo foi baleado, Mário deixou de jogar em protesto contra a morte de um fã do clube Vila Nova, baleado por um torcedor do Clube Atlético.
Osvaldo Costa, formado em 1931 e que viria a ser o maior dermatologista das Américas, foi outro contemporâneo de Caiafa e Mário. Ele também foi craque do Atlético. Enquanto Mário tinha o apelido futebolístico de Orion, Costa era o goleiro Perigoso, desde o colégio em São João del Rei. O Perigoso foi o mais famoso goleiro do Atlético, antes do Cafunga. Tive o privilégio de conversar longamente com o Osvaldo Costa, o Cafunga e o Caiafa, cada qual em separado, sempre relembrando com humor aqueles tempos de romantismo e boemia. Nessas conversas, dois outros craques eram mencionados recorrentemente: Guará e Friedenreich. As lembranças de Caiafa eram facilitadas pelo acervo atleticano de seu escritório doméstico: uma escultura de um galo carijó, baseada em desenho do Mangabeira, a bandeira, o diploma de Sócio Benemérito e muitas fotos. Coincidentemente, após o falecimento dos três (Caiafa Filho, Osvaldo Costa e Cafunga), me tornei amigo quase cotidiano de Fernando Pieruccetti, o Mangabeira. Mais tarde ainda, me tornei grande amigo de outro grande médico e grande craque atleticano, este no final da década de 30: Hélio Lopes, que, como goleador, era o aclamado Gauchinho, embora legítimo ouropretano.
E a coisa não finda aí: mais outro craque representa surpreendente ligação entre Carlos Caiafa Filho e a história atleticana. É nada menos que Dondinho, o pai de Pelé. Isso porque Caiafa foi o primeiro treinador do Dondinho (João Ramos do Nascimento), na equipe da Congregação Mariana de Campos Gerais, entre 1936 e 1938. Em seu livro VIDA DE MENINO ANTIGO, Caiafa Filho diz que, antes disso, o Dondinho era da turma rival de meninos, com a qual seu grupo entrava em briga de rua, quase a cada dia. Brigavam contra a turma do Carlito do Euzébio (sobrinho do Padre Maurício), entre os quais estavam o Rodão, o João Rabelo, o Geraldo do Guilherme Surdo, o Benedito Rabelo, o Marcelo, o Gaguinho, o Dondinho (futuro pai do PELÉ), o Morais, o João Trancolino (o Dá Um Pé...) e outros de que não me lembro agora. O sonho do garoto Dondinho devia ser poder chutar bola no campinho do Largo da Matriz, em frente à Casa Caiafa. Ali o Caiafinha era o dono da bola, do campo, do time e até de alguns jogadores, como o Canhão da Flausina ..., seu grande amigo.
Carlos Caiafa Filho é filho de um imigrante italiano (nascido em Castel Ruggero, região de Salerno, vindo menino para Minas), mas, em vez de torcedor do Palestra Itália (hoje Cruzeiro), clube futebolístico da colônia italiana, ou do América, clube dos estudantes universitários, foi desde cedo apaixonado pelo Atlético. A explicação está na convivência e amizade com o trio maldito, reinante nos campeonatos de 1927 a 1932. O trio encantou os atleticanos com incríveis jogadas e numerosos gols e era formado pelo citado Mário e por Said (Said Paulo Arges) e Jairo (Jairo Assis Almeida). Nessa época o campo do Atlético localizava-se onde hoje é o Mercado Central, enquanto o do seu maior rival, América, ficava defronte: onde hoje é o Minascentro.
Caiafa Filho é meu ex-sogro e também meu parente. O casamento de seu pai com a dona Umbelina Ferreira de Brito, consangüínea de meu avô, teve a influência deste. O Caiafa, pai, deslocou-se de Campos Gerais a Três Pontas para fazer o curso de normalista, que nesta época era para ambos os sexos. A Escola Normal Municipal de Três Pontas, surgida do Padre Vítor e do médico e senador estadual Josino de Paula Brito, na virada do século 19 ao 20, é marco cultural na região. Meu avô era colega de turma do Caiafa e aí é que deve ter favorecido seu namoro com a futura esposa. Na biblioteca da família foi preservada uma HISTÓRIA SAGRADA e nela se lê: este livro me foi oferecido por meu estimado amigo e colega João de Abreu Salgado (a) Carlos Caiafa. Quem resguardou o livro foi a filha Anita, por sua vez casada no ramo Mesquita dos Brito, no caso o farmacêutico José Augusto de Mesquita (colega de profissão, parente e amigo de meu pai, João Salgado Filho). Esta dama típica da aristocracia regional comentou comigo: que pena que esses dois normalistas, tão amigos, os bisavós Carlos e João, não tenham sabido (ou talvez saibam) que teriam os mesmos bisnetos!
Quando Carlos Caiafa Filho chegou como jovem médico a Campos Gerais, seu pai, em vez de professor, era forte fazendeiro e alto comerciante, na prosperidade ressurgida da crise de 1929. De presente de formatura, entregou ao filho uma baratinha último tipo, daquelas de poltrona escamoteável no porta-malas. O jovem, sem dúvida o melhor partido da cidade, mas que não era nenhum galã, teve pouca dificuldade em conquistar a moça mais bonita dali, Alzira Rabelo de Figueiredo - permanentemente bela por nove décadas.
Sabedor disso, passei a estimular Caiafa Filho a escrever seu livro de memórias, ainda mais que ele estudou interno no colégio marista de Varginha (e também no do Rio de Janeiro), sendo que fui ali interno três décadas depois. Nossas memórias seriam complementares, tanto no referente ao internato como ao curso de medicina. Infelizmente ele, excelente calígrafo apesar de médico, redigiu em manuscrito apenas o primeiro volume e assim deixou de nos brindar com histórias incríveis do mundo estudantil e do mundo docente de nossa Faculdade. Seu livro revelou um autor de escrita fácil e cativante, cheio de bossa humorística, talento cedo manifestado, mas tardiamente efetivado. A dona Alzira ficou de certo modo aliviada por não ver publicadas algumas das coisas que o autor prometia para o segundo volume, com o título de MINHA VIDA DE ESTUDANTE DE MEDICINA.
De meu lado, sei também de muita coisa que sairia nesse volume e digo que seria sensacional, especialmente o anedotário das repúblicas e o incidente com o Reitor. Mas seria também de excepcional interesse um terceiro volume, com o relato de sua vida de médico em Campos Gerais. A tarimba ali acumulada, ele a trouxe consigo quando veio para Belo Horizonte. Aqui passou a cuidar de variada clientela, pois atendia em consultório na própria residência, na Zona Sul, e também na periferia. Cliniquei às vezes a seu lado e sei de sua competência, repleta de truques preciosos, e que era especial em pediatria. Dizia o farmacêutico Joaquim Augusto Rabelo (Quinca Rabelo, tio de sua esposa e também contemporâneo de meu pai, com quem eu adorava conversar) que o Caiafa já se formou bom pediatra, mas se tornou melhor ainda, depois da dúzia de filhos que muito bem criou e educou.