sábado, 5 de setembro de 2009



ANTÔNIO GUILHERME E JOSÉ GUILHERME VILELA – DOIS COLEGAS GUILHERMES QUE ARREBATARAM MINHA ORATÓRIA

João Amílcar Salgado

Tenho sido orador em diferentes ocasiões, inclusive em minhas formaturas, exceto em duas e nestas oraram em meu lugar colegas de nome Guilherme. Deixei de discursar pelas circunstancias que narro a seguir.

O primeiro caso foi a formatura no ginásio, em Nepomuceno, que se deu logo após o falecimento de meu pai, perda da qual eu ainda não me recuperara. Então o orador foi o Antônio Guilherme que era negro e inteligentíssimo. Naquela época, em 1951, os professores e alunos do Ginásio Municipal e também os nepomucenenses em geral aplaudiram o acontecimento como demonstração de ausência de preconceito racial. E eu, nos meus 14 anos, acabei tendo a desconfortável impressão de que estava sendo colocado no lado preconceituoso, pois, caso eu fosse o orador, tal demonstração não seria possível.

O segundo caso foi a formatura no científico, em Belo Horizonte, da qual o então governador Juscelino Kubitschek era o paraninfo. Os formandos já haviam escolhido a professora Beatriz Alvarenga, mas, como era centenário do Colégio Estadual, o Juscelino, que estava sendo lançado à Presidência do país, não poderia perder o palanque. A maioria dos estudantes não aceitou a troca da querida professora pelo governador, mas o reitor Eli Menegale impôs autoritariamente a substituição. Eu era um dos líderes a favor da Beatriz e Menegale jamais arriscaria ouvir de mim, na festa, a contestação do paraninfo. E, assim, mais uma vez o orador foi um Guilherme. Era um tranqüilo e afável estudante do curso clássico, que iria passar brilhantemente no vestibular de direito, de nome José Guilherme Vilela – e que certamente não iria ofender o governador. De minha parte, nos meus 17 anos, não fiquei muito ofendido, porque o Zé Guilherme me representava mais que aos outros, já que sou Vilela por linha materna.

Em 2004 nossa turma do Estadual completou 50 anos de formada e fizemos um agradável almoço ao qual compareceram quatro professores da época: Beatriz Alvarenga, Wagner Brandão, Aluizio Pimenta e José Elias Murad. Infelizmente o orador e então magistrado José Guilherme Vilela não pôde, à última hora, vir de Brasília.

Neste momento, lembro estes fatos saudosos dos anos dourados, como homenagem a este nosso querido orador, assassinado há pouco em pavoroso latrocínio.