domingo, 24 de agosto de 2008

GENEALOGIA DA FAMÍLIA ABREU SALGADO
João Amílcar Salgado
A família Abreu Salgado é um dos ramos da família Ferreira de Brito de Três Pontas e também da união desta com ramos da família bandeirante dos Bueno, da família Magalhães do Sul de Minas e da família Arantes / Faria Bello de Formiga. A família Ferreira de Brito surgiu com a chegada de Bento Ferreira de Brito a Três Pontas. Havia ali uma capela consagrada a Nossa Senhora da Ajuda, desde 1768. Bento Ferreira doou à capela o terreno em torno da mesma, no qual surgiu a cidade de Três Pontas, sendo por isso considerado o fundador da cidade. Ele nasceu em Portugal, em 21 de março de 1744 (mesmo dia e mês do autor deste texto, seu descendente), na localidade de Ribeira, freguesia de São João de Brito, filho de Francisco Vieira da Silva e de Catarina Luiz. Casou-se em Minas Gerais, na cidade de Carrancas em 06/08/1766, com a mineira Ignácia Gonçalves de Araújo. Ignácia era filha do português Ignácio de Araújo, natural da freguesia de Santa Maria do Araújo, e da paulista Juliana Vieira de Afonseca, natural de Taubaté, por sua vez, filha de José Vieira da Cunha e de Catarina Portes. É provável que Ignácia Gonçalves, batizada em 17/08/1746 na igreja de Nossa Senhora do Pilar em São João del Rei, seja, por meio de sua mãe Catarina Portes, consangüínea do Tomé Portes, fundador de São João del Rei.
Bento Ferreira de Brito e Ignácia Araújo de Brito tiveram cinco filhos e cinco filhas: Marta Umbelina (Costa Rodrigues), Manoel, padre Joaquim Vieira (que teve filhos), José, Bento, Francisco, Beatriz (Silva Mendes), Ana Luiza (Vinhas de Castro), Catarina (Souza Diniz), Josefa (Mesquita) e Luiza Cândida de Brito, esta casada com o português Domingos de Abreu Salgado. Com os sobrenomes dos genros de Bento Ferreira de Brito (Costa Rodrigues, Silva Mendes, Vinhas de Castro, Souza Diniz, Mesquita e Abreu Salgado ficam constituídos os troncos das famílias matriciais de Três Pontas. A estas devem ser agregados os sobrenomes do fundador - Vieira, Ferreira e Brito - e da esposa - Araújo e Vieira - bem como das noras: Nascimento, Silveira, Castro e Adelindes.
Domingos de Abreu Salgado era português de origem galega (como os Salgado em geral), aqui se tornou capitão e foi nomeado um dos seis vereadores da primeira câmara da Vila de Lavras, em 1832. De seu casamento com a filha de Bento Ferreira de Brito, Luiza Cândida, nasceram seis filhos: Valentim, Francisco, Maria Cândida, José Maximiano, Claudina Constância e Estevão de Abreu Salgado. Valentim de Abreu Salgado casou-se com uma descendente das 3 Ilhoas, Maria Bárbara de São José (Ilha do Faial), enquanto Maria Cândida se casou com Antônio Tomás de Aquino.
Já o coronel Estevão de Abreu Salgado, que viveu em Três Pontas (1820-93) e foi fazendeiro nas Águas Verdes (entre Campos Gerais, então pertencente a Três Pontas, e Dores da Boa Esperança), casou-se duas vezes, a primeira com Alexandrina Cândida de Mesquita. Interessante é que um dos filhos do casal, Alexandrino (Domingos Alexandrino), era casado com Alexandrina (de Azevedo). O segundo filho de Estevão chamou-se Zeferino Mesquita, do qual não há dados.
Viúvo, Estevão casou-se em segundas núpcias com Sabina Magdalena de Faria Bello, neta de João de Arantes Marques, o iniciador da família Arantes. O patriarca João de Arantes, nascido em Vieira, arcebispado de Braga, em 1724, veio de Portugal para Formiga e se casou com Margarida Faria de Magalhães, filha do patriarca da família Magalhães do Sul de Minas, o português João de Faria Magalhães, natural de Vila do Porto, bispado de Leiria. O casal João Arantes e Margarida Faria de Magalhães teve quatro filhos, um dos quais Maria Madalena do Sacramento Arantes, que se casou com o açoriano (Ilha do Pico) capitão Manoel Antônio de Faria, patriarca da família Faria Bello, vindo a ter sete filhos, um dos quais Sabina Madalena de Faria Bello, segunda esposa de Estevão de Abreu Salgado.
Dentre os Arantes com alguma fama, três parecem necessitar citação: o duque de Caxias, Arantes por linha materna, que honra a todos; o contraditório e polêmico Edson Arantes do Nascimento, o Pelé; e Joaquim Silvério dos Reis, que, mesmo contra-parente, ocupa posição incômoda nesta linhagem.
O casal Estevão e Sabina de Abreu Salgado teve os seguintes dez filhos e respectivos consortes: 1) Modesto de Abreu Salgado, com Ezilda de Magalhães Chaves; 2) Augusta Belmira de Abreu, com Antônio Ferreira de Brito Júnior; 3) Luiza Bello de Abreu, com Olímpio Vilela; 4) Sabina Bello de Abreu (Sabininha), com João Pinto de Abreu Vilela; 5) Cristina Maria de Abreu, com o Antônio Luiz de Azevedo Araújo; 6) Maria Madalena de Abreu, com o mesmo Antônio Luiz de Azevedo Araújo (segundas núpcias deste); 7) Ana Inácia de Salgado Abreu, com Silvestre José Ferreira de Mesquita; Teodolina de Abreu Salgado, com Domingos José Ferreira de Brito; João Ferreira de Abreu Salgado, com Balbina Guilhermina do Espírito Santo Magalhães; e Constância de Abreu Salgado, solteira.
O casal João Ferreira e Balbina de Abreu Salgado teve cinco filhos: Delmira (Lica), Maria (Mariquinhas), Ana (Sinhaninha), Luiz e João. João Ferreira de Abreu Salgado era coletor e se tornou ativista do movimento antimonarquista, juntamente com dois parentes, o médico Josino de Paula Brito e o padre José Maria Rabelo. Sua militância política não permitiu que cuidasse satisfatoriamente dos filhos, o que se agravou com o falecimento da esposa. Assim, seu filho João de Abreu Salgado, por ter ficado órfão da mãe Balbina muito jovem, foi criado pela irmã mais velha, Delmira, esposa de Aprígio Mesquita. Foi também amparado pelo parente e padrinho Barão de Boa Esperança, tenente-coronel Antônio Ferreira de Brito, que, ao contrário do pai republicano, muito o influenciou na admiração a Pedro II e à princesa Isabel.
João de Abreu Salgado casou-se com Emerenciana Ferreira de Castro (sua consangüínea pelo lado Ferreira), sendo filha de João Ferreira de Castro e de Amélia da Silva Campos. Emerenciana, apelidada de Chanica, tem ascendência ligada diretamente à linhagem de Amador Bueno, por meio do ramo Bueno de Lavras. Seu pai João Ferreira de Castro se casou duas vezes, teve quatro filhas com Amélia Campos: Zulmira, Amélia, Caca e Emerenciana, e dez filhos com a segunda esposa: Antonieta, Marieta, Rita, Maricas, Julieta, Francisco, Antônio, João, José e Benjamim.
O casal João de Abreu e Emerenciana teve dez filhos, sendo que duas meninas, as primeiras, faleceram bebês (Amélia e Balbina). Sobreviveram: João, Maria, Iracema, Moacir, Elisabete, Rute, Osvaldo e Aprígio. Elisabete (Bebete), Rute e Osvaldo (Tito) permaneceram solteiros. João de Abreu Salgado Filho (Joãozinho) casou-se com Evangelina Vilela Salgado (Vange) e tiveram os filhos Emerenciana (falecida ainda bebê), Maria Aparecida, João Amílcar, José Aníbal, Neusa Vilela e Antônio Lívio. Maria de Abreu Salgado (Cotinha) casou-se com Antônio Corrêa Figueiredo e tiveram a filha Maria José Figueiredo. Iracema Abreu Salgado casou-se com Luiz Lourençoni e não tiveram filhos, sendo pais adotivos de Maria Aparecida, José Lucas e Maria de Lourdes. Moacir de Abreu Salgado casou-se com Odete Barbosa Lima e tiveram os filhos Ana Maria, João Aluízio, Maria Stela e Lourdes de Fátima. Aprígio de Abreu Salgado casou-se com Maria Gabriela Prata e tiveram os filhos João Euclides, Aprígio Filho e Olga Elisabete.

O autor, João Amílcar Salgado, é professor titular de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais, pesquisador em História da Medicina e do Sul de Minas e genitor de Carlos Amílcar Salgado (pai de Ana Luiza, Thaís, Bruno e Brenda) e João Vinícius Salgado (pai de João Mateus)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008





AS DUAS SERPENTES E A MEDICINA

João Amílcar Salgado

Da conflituosa convivência entre ambos, ao longo de milhões de anos, a serpente é temida e invejada pelo homem. Este teme nela não só o potencial de morte, mas também o comportamento sorrateiro. Ele inveja nela não só o mesmo comportamento ardiloso, mas sua imortalidade individual. Então é sobre o comportamento da serpente, especialmente sua mágica de envenenar sem se envenenar e de fingir a morte sem morrer, que convergem o temor e a inveja do homem.
Na maioria das culturas a serpente é importante elemento mítico. O lado temido é representado pela própria serpente. O lado invejado é representado pelo rio (a serpente líquida), pelo arco íris (o rio celeste) e pelo pênis e suas variantes simbólicas (fálicas). Grandes civilizações se devem a grandes rios e em seus vales habitam serpentes gigantes e/ou arborícolas, como a píton, desde a África à China, e a jibóia e a sucuri, na América. Já o simbolismo fálico tem dupla força, pois se o pênis serve à sobrevivência da espécie, a serpente é a mais veemente referência observada na natureza em favor da sobrevida individual. Assim, um bastão fálico, enlaçado por um casal imortal de serpentes, em cópula, não poderia deixar de ser o símbolo perfeito da medicina.
Além da serpente e do bastão, a medicina conta com dois outros símbolos fálicos, recorrentes entre as culturas: o umbigo e o cavalo. A maioria dos povos denomina umbigo a seu local ancestral, nos respectivos idiomas nativos, e, assim, o nexo ônfalo-órbico sacraliza a saúde cultural das gentes, graças a sua conotação de centralidade, antigüidade e perpetuidade. Já o sonho de poder, representado na fusão do cavaleiro com o cavalo, inclui a tripla potência do centauro: sexual, artístico-industrial (habilidade manual) e médica. Por outro lado, a ligação mulher-serpente se faz meta-simbólica na saga de Tirésias e na tentação de Eva.
Em 1878 foi encontrado, numa biblioteca real assíria, o relato escrito da epopéia de Guilgameche. A história se passa num dilúvio ocorrido na Mesopotâmia, há mais de quatro milênios. Assim como na história semelhante de Noé, de quem, pela Bíblia, os assírios descendem, mas escrita posteriormente, o relato pode ser apenas a versão escrita, etnocentricamente adaptada, de lenda oral remontante ao degelo da última glaciação, há nove milênios. Este sim seria capaz de dilúvio aparentemente universal, superando a hipótese de mera inundação fluvial. Pois bem, Guilgameche, ao concluir que só sobrevivera por intervenção e eleição da divindade, pediu à mesma que a graça da sobrevida se estendesse em imortalidade. Seu pedido foi atendido, por meio de um vegetal panacéico - e ele de tão feliz adormeceu. Ao acordar descobriu que a serpente sorrateiramente lhe usurpara aquela dádiva.
Desde cedo o homem, ao observar a troca de pele das cobras, concluiu que elas espertamente driblam a morte, fingindo que morrem pela descamação. Neste sentido, quem sempre pretendeu usurpar a esperteza da cobra é o homem. E - por perseverar na esperança de que dê certo esta aplicação crucial do princípio homeopático - desenvolveu o conhecimento médico e, por isso mesmo, o símbolo mais persistente da medicina.
Em Delfos, na Grécia, o clássico oráculo reuniu a fonte solar da vida (Apolo) com o sonho da vida eterna (Píton), sob a intermediação terráquea e reprodutiva da mulher (pitonisas sibilinas) e também do falo umbilical (o umbigo geocêntrico). Aí, a devoção xamanística ao vinho, simbolizada em Dionísio (Apolo ébrio), se mistura ao fascinante recurso a substâncias indutoras de sonhos. Esta bela síntese mítica tem explicação antropológica, que remonta a bem antes dos gregos.
A domesticação de plantas e animais, em vários locais do mundo, levou à divinização do sol, que então substitui a divindade panteísta dos catadores-caçadores. No Egito, o sol, fecundante das cheias do Nilo, é Amon-Ra, deus também da medicina. A Grécia, onde aquela domesticação não teve o mesmo significado, copiou Amon-Ra como Hélios, por sua vez copiado pelos romanos como Apolo. Em virtude da especialização requerida pela maior complexidade social, um semideus, Imotepe, filho ou descendente de Amon-Ra, se torna o deus específico da medicina. Imotepe é copiado na Grécia como Asclépio e em Roma como Esculápio. Já na Mesopotâmia, o deus solar (correspondente a Amon-Ra) é Ninazu, fecundante da agricultura entre o Tigre e o Eufrates, enquanto seu filho semideus (correspondente a Imotepe) é Ningishzida. O Imotepe histórico (2667-2648 aC), deificado depois, foi médico do faraó Zoser. Além da medicina, foi pioneiro no uso da escrita (provável autor de farmacopéia) e na arquitetura, autor da primeira pirâmide faraônica - a de Sacara, em degraus, derivada de pirâmides núbias.
No Egito, antes do culto hegemônico a Amon-Ra, a divindade pré-agrícola correspondente é Toth. O caráter panteístico, ubíquo, flúido e imanente de Toth, permite que seu culto subsista após a agricultura, prolongando-se até hoje, ainda secreto e iniciático. A Grécia copiou Toth como Hermes e Roma como Mercúrio. Desde o início, Toth era identificado com a serpente, neste caso simbolizando virtudes genéricas de sagacidade, ubiqüidade e periculosidade, enquanto, na simbolização de Amon-Ra, as virtudes de sobrevida são concentradas na serpente constritora e arborícola. A serpente ligada a Toth é principalmente veloz e venenosa e a serpente ligada a Amon-Ra é sobretudo forte, poderosa e imortal.
Nos impérios alexandrino e romano, a iniciação a Toth é ritualizada em culto esotérico a Hermes Trimegisto, deste derivando, sucessivamente, a alquimia, a farmácia, a química, até chegar à manipulação do DNA. A substância mercúrio é a perfeita serpente líquida. Os primórdios da manipulação farmacêutica alexandrina surge da abertura gradual de segredos terapêuticos hermeticamente guardados. Daí que a serpente se acha no símbolo de Hermes tanto para o comércio como para a farmácia. O comércio farmacêutico das especiarias presidiu as Cruzadas e as grandes navegações. Para o comércio, o casal de serpentes entrelaça bastão alado, enfatizando os aspectos de informação privilegiada, segredos do ofício, agilidade, sagacidade e comunicabilidade. Para a farmácia ambas entrelaçam bastão em taça, enfatizando a simbologia de veneno domesticado (phármakon = veneno). O distintivo hoje do comércio foi usado para anunciar o local ou a presença do comerciante e depois para qualquer anúncio, neste sentido chamado de caduceu (bastão ou estandarte de anúncio). Na França, usa-se este termo também para o símbolo da medicina. Aliás, o próprio distintivo pagão de Hermes foi usado, nas guerras do Ocidente, para anunciar médicos militares e pessoal não combatente - antes da adoção do símbolo cristão da Cruz Vermelha.
O símbolo primordial da medicina é um segmento retilíneo de galho de árvore entrelaçado por um casal de serpente em cópula. Esboçado assim, exibe as tais duas simbolizações fundamentais: a da sobrevida da espécie (a madeira fálica, a forma do animal e a cópula) e da sobrevida do indivíduo (as serpentes descamáveis). As mais remotas representações já reduzem o pedaço de árvore a cajado ou bastão. Uma delas está no Louvre (2000 aC) e outra foi divulgada por Heuzey (2350 aC), ambas em cálice votivo para libação cerimonial a Ningishzida.
O moralismo ainda pré-cristão, mas principalmente cristão, entretanto, acabou fazendo lamentável censura à cópula das serpentes, reduzindo-as a apenas uma. A censura sexual sempre foi compreensivelmente mais severa no âmbito da medicina. Nisso pesou também a aproximação simbólica com o crucifixo. Assim foi deformada a comovente simetria do símbolo e ficou desequilibrada a forte mensagem emitida desde o paleolítico. A simples comparação visual, entre a mensagem semiografica, em pedra sabão, datada de quatro mil anos atrás, e o desenho molecular, da metade do século 20, é a esmagadora demonstração de que o código xamânico intuiu com incrível precisão o código genômico.
Vista sob tais antecedentes, a polêmica sobre uma ou duas serpentes perde muito de sua paixão. Nada melhor que um pouco mais de cultura para desinflamar debates apressados. A propósito, a medicina brasileira, desde antes da chegada dos europeus, está envolvida, de modo bem específico, com a serpente. No exercício da medicina a que foi obrigado, Anchieta foi informado pelos nativos de que as pessoas picadas por cobra e que sobreviviam poderiam ser novamente picadas sem qualquer dano - o que não deixa de ser um lampejo de imortalidade. Daí por diante coisas maravilhosas aconteceram. Pois não foi brasileira e também mineira a contribuição decisiva de Vital Brasil contra o MAL da ofensa ofídica? E não foi da brasileiríssima jararaca que nossos cientistas (um deles o mineiro Wilson Beraldo) descobriram o BEM não só da bradicinina (chave de herméticos segredos da fisiologia), mas também da família revolucionária de anti-hipertensivos, iniciada com o captopril?
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O autor é professor titular de Clínica Médica e pesquisador em História da Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais



quinta-feira, 19 de junho de 2008

JARBAS JUAREZ ANTUNES - haverá artista mais original em Minas ?
João Amílcar Salgado
Sou testemunha presencial de como se revelou ao mundo o talento polimorfo deste originalíssimo artista mineiro. É glória de três cidades: nasceu em Coqueiral, viveu a infância e a juventude em Nepomuceno e, em Belo Horizonte, Guignard e o ambiente artístico dos anos dourados lhe fizeram o acabamento criativo. Forma com Álvaro Apocalipse e Amílcar de Castro a santíssima trindade da presença artística sul-mineira na Capital. Acompanhei a progressiva ampliação dos rótulos que veio recebendo: no início era excepcional desenhista, depois foram-lhe reconhecidas as várias facetas de pintor, mais tarde as de escultor e finalmente o impacto de seu domínio das cores. É sobretudo o intrigante comunicador da arte que atinge grande número de apreciadores, quase sempre silenciosos, mas sempre atentos e sempre à espera de sua próxima e inédita maneira de expressar-se.
Cito o exemplo do cientista Wilson Beraldo. Por volta de 1977, topo com ele numa exposição do Jarbas. Perguntei que sabia do artista. Respondeu que não o conhecia pessoalmente, mas o vinha acompanhando ao longo da carreira e estava ali para ver suas novas criações. Apresentei um ao outro e o Jarbas ficou sabendo que o descobridor da bradicinina (a maior realização da ciência mineira e brasileira, depois da descoberta da doença de Chagas) vinha sendo seu admirador silencioso há bastante tempo.
Outro cientista que muito o admirava era Liberato DiDio, o anatomista. Fiel a sua ascendência italiana, DiDio estava à busca de estudantes e docentes inclinados a unir ciência e arte. Freqüentavam seu laboratório anatômico os docentes-artistas Geraldo Dângelo, Jairo Câmara, Hélcio Werneck e Edson Moreira, os estudantes-artistas Edson Razuk, Alberto e Rui Paolucci e Carlos Fakir e também os desenhistas-ilustradores Tenente, Alemany e Jordá-Poblet. Garanti ao DiDio que aquele jovem, o Jarbas, não queria emprego, apenas permissão para desenhar cadáveres e peças anatômicas, pois era estudioso da técnica de desenho de Leonardo Da Vinci. E foi assim que o nosso artista teve para sua privilegiada formação, além das aulas do mestre Alberto Guignard, substancioso preparo em anatomia artística. Fez para mim uma escultura do coração que repousa sobre a palma da mão e, para o neurocirurgião Sebastião Gusmão, o cérebro em idêntica posição. Vale lembrar que desde bem cedo o Jarbas era ligado aos dois formidáveis médicos-artistas Chanina e Konstantin Kristoff, seus condiscípulos sob Guignard.
Quando foi criado o Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais pedi ao Jarbas para restaurar um retrato danificado de Carlos Chagas. Daí ele passou a freqüentar as aulas de História da Medicina. Ele ficava na platéia com uma prancheta e, caso o tema o inspirasse, esboçava uma ilustração. Daí surgiram as duas esculturas citadas, uma gravura do aleijão do Aleijadinho e outra do centauro Quíron. Ainda hoje temos a esperança de que esta se torne uma escultura para ficar à entrada da Faculdade. E a missão do artista seria esculpir o centauro com base não só no desenho já feito, mas aproveitando os estudos elaborados por Auguste Rodin para uma peça que nunca chegou a confeccionar.
Mas as duas maiores contribuições do Jarbas, dentro desta cooperação, foi o grande painel sobre a história da medicina que se exibe no salão principal do Centro e a suntuosa capa do livro ERÁRIO MINERAL (1735), em edição fac-similar. Encantado com a beleza dessas duas obras, o professor Joaquim Carlos Salgado, também companheiro de juventude do artista, exigiu que fizesse painel análogo e igualmente fascinante para a Faculdade de Direito da mesma Universidade.
Em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2003), descrevo como a originalidade do Jarbas foi descoberta, sendo ele ainda garotinho, em virtude de seu modo inusitado de empinar papagaio. Falo da procedência macabéia dos Antunes. Relato como ele se encontrou pela primeira vez com Guignard. Descrevo como indicou o Henriquinho (futuro Henfil) para substituí-lo na elaboração de cartuns para um jornal. Lembro quando o visitei num apartamento quarto-e-sala, onde também morava o hoje conhecido poeta Afonso Romano de Santana e, mais tarde, numa república onde também moravam outros futuros intelectuais mineiros.
Jarbas, em sua magnífica versatilidade artística, ilustrou livros infanto-juvenis, um deles de Ângelo Machado, que era um dos jovens presentes naquele laboratório anatômico antes citado. E ilustrou um livreto da maior importância na história da inteligência mineira. Trata-se da segunda edição (1967) de ATUALIDADE DE DOM QUIXOTE, de autoria de Francisco Campos , ainda mais que prefaciado por Abgar Renault (1950). Sim, este multifário quixote da arte de Minas foi acertadamente lembrado para ilustrar o tema Quixote, no que este tem de criação imensamente original, ou seja, o romance por excelência, aquele que é trans-centenário, trans-etário, sempre imitado e nunca superado. E o desenhista alcançou justo o mesmo foco dos poderosos cérebros de Campos e Renault. Em outras palavras, basta observar as ilustrações, para verificar como o artista caminhou junto, unívoco ou unígrafo, com o pensador e o poeta. E foi assim que os três atingiram a significação máxima do protagonista, que, por sinal, só poderia ter sido engendrado das profundezas do pensamento ibérico.


O autor é professor titular de Clínica Médica e pesquisador em História da Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
A ONOMATOMANCIA NEPOMUCENENSE
João Amílcar Salgado
Os habitantes da cidade de Nepomuceno desenvolveram há muito tempo o hábito de achar semelhanças fisionômicas entre as pessoas. De mania divertida passou a ser um esporte, principalmente por influência do cinema, quando vários artistas que apareciam na tela eram apontados como semelhantes a pessoas da cidade. O costume progrediu de modo recíproco, quando as pessoas da cidade passaram a ser apelidadas com o nome (onomato) de atores ou personagens. E a coisa se expandiu com os jovens que buscavam estudo ou trabalho em outras cidades. Qualquer pessoa desses lugares poderia ser apelidada de seu parecido. Uma penúltima etapa desse cacoete foi a busca de semelhanças não mais entre pessoas, mas entre acontecimentos, especialmente os engraçados. E mais uma etapa afinal ocorreu na mente de alguns fanáticos colecionadores de tais semelhanças. Estes passaram a suspeitar que outras cidades conspiravam para imitar coisas que acontecem, aconteceram ou (pior) acontecerão em nossa cidade.
A essa mania própria de Nepomuceno dei o nome de ONOMATOMANCIA NEPOMUCENENSE. Com isso, a antiga Vila passa a ser A CAPITAL ONOMATOMANTE DO MUNDO. Tal título ficou incontestável diante de três episódios que elevam o fenômeno nepomucenense ao plano internacional. Interessante é que dois deles têm como protagonista nada menos que o saudoso Edmilson Cardoso Costa, personalidade queridíssima de nossa história. Pouca gente o tratou por seu nome verdadeiro, pois era conhecido por nada menos que dois apelidos: Zotinho e Passata. Era Zotinho, em seu lado sério de corretor de café, um dos melhores que já tivemos. E era Passata, em seu lado boêmio, companheiro da juventude e disputado para estudantadas, seja na Vila seja na Capital.
O primeiro episódio internacional de onomatomancia nepomucenense em que o Passata se envolveu foi quando o ator Marlon Brando dançou o último tango em Paris, no filme do mesmo nome (1972). Todos os ex-estudantes nepomucenenses que viram a cena na tela exclamaram: será que a família Bertolucci de Lavras relatou ao autor da fita os mesmos passos de tango exibidos pelo Passata no cabaré Montanhês, em Belo Horiconte, em 1959? Ao saber dessa façanha do Passata, o diretor Bernardo não teria resistido à tentação de fazer do causo um filme. Não só incluiu a mesma dança no roteiro, mas encerrou o enredo com ela e, mais que isso, fez dela o nome do próprio filme. É onomatomancia prá ninguém botar defeito!
O segundo episódio do mesmo Passata foi quando a CIA resolveu procurar, em todos os países, os sósias mais perfeitos do presidente Reagan. Isto porque este tinha levado seis tiros, em 1981, e o papel dos sósias era aparecerem em público em vez do presidente. Ora, desde quando Reagan era mero e péssimo artista de cinema, nós já o chamávamos de Passata quando aparecia na tela do cine-teatro da Samina (nossa inesquecível Sá Mina: Guilhermina Guimarães Cardoso). Um agente da CIA foi informado disso por um primo, professor visitante da antiga ESAL, e veio bater uma foto sigilosa do Passata em Nepomuceno. Nosso herói tirou o terceiro lugar no mundo, entre os sósias selecionados. Mas quase esganou o ianque, quando este lhe propôs sete mil dólares por mês para levar tiro em vez do verdadeiro Reagan.
O terceiro episódio foi quando passou aqui o filme Melhor Impossível, estrelado por Jack Nicholson (1997), e este aparecia na tela evitando pisar nos riscos do piso das ruas de Nova Iorque, ou seja, o ator protagonizava autêntico fenômeno de catação-de-risco. Todos os nepomucenenses que viram a cena exclamaram: olha lá!, o Jack está, vergonhosamente, imitando cena acontecida em Nepomuceno em 1946, sendo que o protagonista original era nosso querido dentista e professor de inglês Sílvio Veiga Lima! E note-se que o Jack era ali uma celebridade a fazer o papel de um catador-de-risco, enquanto hoje sabemos que, pelo menos, duas celebridades, o cantor Roberto Carlos e o ator Leonardo DiCaprio confessaram ser catadores-de-risco em suas vidas reais.
Até o momento, a única hipótese para a chegada da catação-de-risco aos EUA é ter sido levada por um nepomucenense chamado Joaquim Lucinda, que se vangloriava de ter ido até lá, mais de uma vez, por um atalho secreto de poucos dias, a pé. Na Europa, o fantástico pseudologista barão de Münchausen (1720-1797) hoje é também conhecido como o Lucinda europeu - e vice-versa. A propósito, meu grande amigo José de Souza Andrade Filho, um dos maiores histopatologistas brasileiros - ao ler meu livro O RISO DOURADO DA VILA, onde traço a história da onomatomancia nepomucenense - deduziu que ele próprio, era, sem o saber, o papa onomatomante da medicina, graças a suas pesquisas sobre analogias na terminologia médica.
Não posso encerrar sem proclamar que a onomatomancia nepomucenense foi alçada até mesmo às artes plásticas, pois está registrada no enorme e belíssimo painel pintado por Jarbas Juarez Antunes (Jarbinha, Binha) para o Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. Nele está sintetizada a história da medicina e aparecem ali um homem examinado por doutores medievais, um outro de óculos dissecando um cadáver e um terceiro de avental ensinando pediatria, que, depois de disfarçados a meu pedido, são, em ordem respectiva, o próprio Jarbas, eu e o Edward Tonelli, onomatomanticamente eternizados por uma homenagem a nossa cidade.

O autor é professor titular de Clínica Médica da UFMG e historiador do Sul de Minas






A MÁ-DIGESTÃO E NEPOMUCENO

João Amílcar Salgado

Nesta data verifica-se a repercussão do lançamento de um livro que honra a cultura de Minas. No 39º Congresso Brasileiro de Gastroenterologia, em novembro de 2006, na cidade de São Paulo, foi lançada a obra DISPEPSIA NA HISTÓRIA & A HISTÓRIA DA DISPEPSIA, versão em livro da tese de mestrado do médico Carlos Amílcar Salgado. Trata-se de um texto que é de interesse de pessoas cultas, especialmente historiadores, podendo até ser lido pelo público em geral. Nele a gente aprende como a má-digestão, que os médicos chamam de dispepsia, foi importante na história da humanidade. Por outro lado, ali é relatado como a dispepsia atormentou grandes figuras da humanidade, a exemplo do imperador Marco Aurélio, do califa Al-Mansur, do iluminista Voltaire, do conquistador Napoleão e do cientista Einstein. Também permite deliciosa viagem ao longo da busca por remédios capazes de aliviá-la, desde plantas e minerais, até produtos da alquímia e da tecnologia atual. Os aplausos recebidos pelo livro é mais uma evidência da projeção da gastroenterologia mineira e da Universidade Federal de Minas Gerais no plano nacional.
Entre os muitos comentários que o tema sugere, é oportuno lembrar sua relação com a cidade de Nepomuceno. Isto porque a tese de Carlos Amílcar Salgado acabou sendo uma homenagem a seu avô, o farmacêutico João Salgado Filho, inventor de célebres gotas para má-digestão. O João Sargado, como era chamado pelos nepomucenenses, vinha observando que o pessoal da Vila sempre comparecia a sua farmácia à procura de alívio para problemas com a digestão.
O sintoma parecia mais comum aqui do que em outros lugares. A princípio ele suspeitou de uma raça de lombriga que só dá aqui, chamada pelo Malico de lombriga de coleira. Mas é quase certo que o mal seja mais simples: resulta do gosto de algumas de nossas famílias pela boa mesa e por refeições exageradas. Querendo aliviar fregueses e amigos, ele começou por selecionar as melhores poções já conhecidas e afinal decidiu criar fórmula inteiramente nova.
Certo dia, um homem chegou à farmácia com cara de desespero e disse que estava com a boca do estômago crescida e não agüentava mais aquele empanzinamento. O Sargado trouxe uma xícara com dois dedos de água e pingou dez gotas do novo remédio. Em poucos minutos veio o alívio e o sofredor exclamou: foi o padre Vítor que me guiou prá entrar nesta farmácia! Daí que o povo passou a chamar o medicamento de gotas do padre Vítor. A verdade é que quando interrompemos a manipulação dessas gotas, muita gente se sentiu desamparada na cidade.
O próprio inventor, que por sinal foi batizado pelo padre Vítor, ficou tão feliz com sua criação que quis dar-lhe um nome à altura, chamando-a tecnicamente de gotas eupépticas, mas, com o tempo, aceitou o apelido dado pelo povo.
Assim, posso muito bem imaginar a satisfação do avô: a razão e o sucesso de sua invenção se reproduzindo no tema e no sucesso do livro de seu neto.

O autor é professor titular de Clínica Médica da UFMG e historiador do Sul de Minas

sexta-feira, 28 de março de 2008

D. JOÃO VI E A MEDICINA


Em 2008 comemoramos os 200 anos da chegada de João 6o ao Brasil e esta é a oportunidade para que os historiadores da medicina perguntem: quais foram as relações de João 6o com a saúde? Comecemos por apontar três delas: a varíola de seu irmão, a loucura de sua mãe e a autorização para a abertura de cursos médicos no Brasil.
A VARÍOLA NA CORTE. O príncipe José, irmão mais velho de João 6o , seria o herdeiro do trono luso, mas sua morte, em 1788, aos 26 anos, causada pela varíola, exigiu que João passasse a herdeiro. A data da morte do príncipe José indica que este sofreu a varíola um ano antes da publicação sobre a vacina feita por Jenner em 1798. Mas antes da vacina de Jenner já havia o recurso à variolização, prática milenar oriental, divulgada na Europa por Lady Montagu desde 1721. Tal recurso poderia ter salvo o príncipe José que foi educado e preparado para assumir o poder. Com sua morte, o príncipe João teve de ser de certa maneira improvisado para a missão difícil de governar aquele vasto reino, mais ainda naquelas circunstâncias históricas.
A LOUCURA DE MARIA 1A. Maria 1a foi a primeira rainha reinante de Portugal, filha de pai português, o rei D. José, e de mãe espanhola, Mariana de Bourbon. Este casal não teve filhos homens e daí Maria se tornou herdeira. Casou-se com um tio, Pedro 3o, e acompanhou a morte de vários filhos, inclusive a do príncipe herdeiro José, falecido dois anos após o pai (ele também casado com uma tia). Os biógrafos apontam como circunstancia de sua loucura, além da hereditariedade endogâmica, a mudança de uma vida inicial de mulher despreocupada para o exercício súbito, em 1777 (um ano após a guerra de independência dos EUA), de pesadas responsabilidades masculinas, sob um céu existencial de terríveis nuvens ameaçadoras. Estas se compunham das mortes citadas, dos movimentos de independência nas Américas, do triunfo da revolução francesa, com reis guilhotinados, e do remorso pela aplicação da pena de morte (exemplo de Tiradentes) e pelas perseguições promovidas por Pombal e adeptos, especialmente aos aristocratas suspeitos de judaismo e aos jesuítas. Tudo isso era mais fanatizadamente aterrador e mais demonizadamente angustiante em conseqüência da exploração de seu pietismo infantil por seu confessor, o inquisidor José Maria de Melo, bispo do Algarve. Em outras palavras, Maria estava esmagada entre, de um lado, a força do pombalismo, com pressões para ser simples déspota, se possível déspota esclarecida e se possível ainda “déspota constitucionalista”, e, de outro lado, a versão católica do pietismo, de devoção ao Sagrado Coração, pregada por prosélitos da Visitação e inspirada em Santa Margarida Maria O historiador da medicina corre o risco de analisar anacronicamente a loucura de Maria 1a. Para se prevenir disso deve conhecer bem o capítulo da história da psiquiatria pré-nosológica, própria da época, seja na Europa, seja especificamente em Portugal. A corte chegou a mandar vir o padre e médico Francis Willis que teria curado a loucura do rei inglês George 3o e que nada pôde fazer no caso da rainha, apesar dos honorários regiamente cobrados. A cura de George 3o, diante da terapêutica ministrada por Willis, levou alguns historiadores a levantar a suspeita de sintomas reversíveis de origem orgânica, como porfiria ou envenenamento. A idade avançada de 82 anos com que morreu Maria 1a faz supor que sua loucura não era grave. O diagnóstico proto-nosológico de melancolia mencionado na época é interessante, pois continua em moda, hoje com a tentativa de moderniza-lo no âmbito do transtorno bipolar (como semiologista, uso aqui o péssimo designativo transtorno sob protesto). O anacronismo neste particular é grave, na medida em que taxonomistas ianques querem sancionar a manutenção do uso do velho vocábulo, restringindo-o à manifestação apenas monopolar, mais lamentável ainda se vinculada a déficite mental. Isso chega a significar ofensa à abrangência semântica de melancolia, já que o termo já dispunha de cânone artístico, aristocraticamente timbrado, depois que o renascentista húngaro Albrecht Dürer (gênio universal, uma espécie de Leonardo da Vinci do norte da Europa, para onde migrou) pintou célebre quadro com tal nome. O temo melancolia (que literalmente significa pletora de bile negra, sendo bile = cole e negra = melanos) remonta ao médico, poeta e filósofo pré-socrático Empédocles, outro gênio universal, nascido em Agrigento, na Sicília. Enquanto os neurocientistas de hoje localizariam a melancolia no encéfalo, antes os médicos, durante mil anos, a localizavam no baço (local próprio da bile negra, oposta à bile amarela, simetricamente localizada no fígado). Ainda no século 19, sob um céu também de terríveis angústias, representadas pela peste branca da tuberculose, os poetas ultra-românticos usavam o termo spleen (baço em inglês) para designar o culto à melancolia, ao tédio, ao suicídio e ao abismo (remontante a Byron), como foi o caso de Charles Baudelaire, autor de um soneto e três poemas com o mesmo nome, e do poeta brasileiro Álvares de Azevedo, autor de dois poemas SPLEEN E CHARUTOS e MACÁRIO, onde aparece o termo.
ABERTURA DE CURSOS MÉDICOS POR JOÃO 6o . Não é correto dizer que João 6o trouxe o ensino superior de medicina para o Brasil. Jornalistas e até historiadores estão cometendo o erro de confundir curso de cirurgia com faculdade de medicina. João 6o abriu em 1808 dois cursos de cirurgia, um em Salvador e outro no Rio. A verdade é que tais cursos não eram de nível superior, isto é, não eram faculdades de medicina. E nem foram os primeiros criados no Brasil, pois o próprio príncipe regente já havia criado um curso de cirurgia em Vila Rica em 1801 e este estava funcionando quando da chegada da corte. Outros cursos haviam sido autorizados mas só o de Vila Rica funcionou regularmente. As faculdades de medicina só surgiram em 1832, depois da independência

quinta-feira, 27 de março de 2008