O BRANQUEAMENTO DE MACHADO DE ASSIS NÃO É UM ESBULHO ISOLADO
A Caixa Econômica Federal retirou do ar propaganda em que Machado de Assis aparece branco. Após reclamações, o banco pede desculpas à população e aos movimentos ligados às causas raciais por não caracterizar o escritor com a sua origem racial
Por Época NEGÓCIOS OnlineA entidade estatal pediu desculpas por não retratar o escritor Machado de Assis como afro-descendente.
A Caixa Econômica Federal suspendeu um comercial que comemorava seus 150 anos, após receber críticas por ter retratado o escritor Machado de Assis como branco – sendo que o escritor era mulato. Isso não deixa de configurar atitude racista.
Este fato veio consubstanciar o estudo de João Amílcar Salgado que coligiu vários exemplos em que personagens negros da historia da medicina e de outras áreas são retratados cada vez mais brancos ao longo do tempo.
O estudioso iniciou tal levantamento depois que seu avô, João de Abreu Salgado, se deu conta da questão. Este último fora, em 1946, o primeiro biógrafo do sacerdote negro mineiro Padre Vítor (Francisco de Paula Vítor), para quem os devotos hoje reclamam a beatificação. O educador Abreu Salgado denunciou o pároco de Três Pontas, por sinal mulato, pela providência de mandar clarear a foto do Padre Vítor, quando da confecção da estampa a ser oferecida a romeiros no santuário de Aparecida do Norte, em 1959.
Evidências análogas passam a ser possíveis com o auxílio da internete, por facultar a exibição de imagens sucessivas e contrapostas da mesma pessoa. As mais escandalosas podem ser inferidas dos primeiros filmes de Holywood, que mostram brancos os egípcios, se confrontados com documentários atuais, quando são exibidas figuras mais fidedignas dos faraós, de fato todos negros. Não se pode esquecer também que a afronta inversa também existiu e continua existindo. Um exemplo foi o fato de que Monteiro Lobato enegreceu o Saci. Outro são os apelidos dados por radialistas a dois notáveis cantores negros mineiros: Blecaute e Noite-Ilustrada, sendo este portador de uma das três mais raras vozes entre cantores populares brasileiros.
A ofensa da Caixa a Machado se dá justamente quando o historiador João Amílcar Salgado prepara a reedição da primeira biografia do sacerdote negro Padre Vítor.
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