ARTISTAS NEPOMUCENENSES QUE NÃO PODEM SER ESQUECIDOS: JOSÉ SERRA, ATAÍDE PEREIRA E JOSÉ CLAUDIO ALVES
João Amílcar Salgado
Ainda ouço seu assobio de manhã, passando no passeio do outro lado da rua – era o José Serra, eterno romântico, cujo repertório era todo de canções da minha preferência. Seu assobio matinal costumava contrastar com os impropérios do meio dia, quando passava vociferando contra os governos municipal, estadual e federal. Seu pai foi o Chico Serra, grande amigo de meu pai, que morava numa casa grande, na rua de baixo, ladeada por sua máquina de limpar arroz.
O Zé Serra quis ser alfaiate e nesse ofício logo sobressaiu. Isso quer dizer que seu gosto pela música era apenas um dos lados, sendo a confecção de roupa fina o outro lado, de sua alma de artista. A notícia de sua habilidade em ternos alinhados chegou à alfaiataria mais importante de Varginha. Para lá foi requisitado e lá trabalhou por largo tempo.
Quando estudei interno no colégio marista de Varginha, o Zé Maria Ribeiro me disse: aqui é a alfaiataria Canalonga, aí dentro trabalha nosso conterrâneo Zé Serra, ele é famoso, mas é muito simples. Um dia resolvemos visitá-lo e nos disseram que naquele dia ele não estava. Tempos depois, uma filial foi aberta em Santos e o Zé Serra foi para o litoral paulista confeccionar os melhores ternos de celebridades, entre elas o governador e o próprio Pelé. Ultimamente, já em Nepomuceno, ele soube que eu escrevia um livro sobre a cidade. Veio até minha casa e me entregou um papel. Disse para eu ler e ver se cabia no livro. Era a anedota em que o Marcílio Lima trocou o nome da Ema Negrão para Cegonha Negrão. É uma das melhores que transcrevi
Outro artista de nossa Vila é o Tié, nome artístico de Ataíde Pereira. Conheci-o quando veio pedir-me a ajuda para receber um rim de transplante. Estava na fila e tinha esperança de ser chamado para a operação. Seu otimismo era alimentado pelo auto-cuidado com que se esmerava e pelo entusiasmo com que se entregava à divulgação de suas criações musicais, sendo ele mesmo compositor e intérprete.
Disse-me que lera meu livro e achou ótimo, mas percebi que sentiu não ser citado ali, nem sequer na lista de apelidos. De fato esta foi grave falha minha, que atribuo a ter interrompido a busca quando o Ataíde ainda morava fora de Nepomuceno. Contou-me sua vida e considero digna de registro sua saga de menino da roça que consegue educar-se. Foi para São Paulo, onde se tornou bem sucedido, dividindo seu êxito com seus familiares, até que é incapacitado pela doença renal.
Presenteou-me com seu disco intitulado TEMPERO DO TIÉ, gravado no Estúdio Fonomusic. Contém as canções Igual Dois Amigos, Viagem Estelar, Janela, A Passagem Prá Felicidade, Onde Está A Amizade, Atiça, Feliz Aniversário, Vista Alegre, A Teia Da Aranha Virgem e A Vitória. Desde o título todas traduzem sua alma sensível e seu lirismo capaz de pairar sobre o mais trágico dos sofrimentos.
Um terceiro artista que a Vila não pode esquecer é Cláudio. Sua mãe é a Aparecida da Maria Rosa, que, ainda menina, foi pajem de meu irmão, o Lívio. A Maria Rosa era auxiliar de minha avó Amélia. A Aparecida consta de meu livro como personagem do causo do saco de esterco. Ela o foi vender ao Sêo João Sargado e este perguntou onde foi que catou o esterco - e ela respondeu que era no pasto do Sêo João Sargado.
Sua filha ingeriu soda cáustica e ficou com o esôfago fechado. Internei-a
Quando me relatou isso tudo, disse-lhe para nunca faltar ao controle
[VER TEXTOS DO AUTOR SOBRE O PINTOR JACI FOGUETEIRO E O PINTOR E ESCULTOR JARBAS JUAREZ]
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