terça-feira, 4 de outubro de 2011

O BRANQUEAMENTO DE MACHADO DE ASSIS NÃO É UM ESBULHO ISOLADO

A Caixa Econômica Federal retirou do ar propaganda em que Machado de Assis aparece branco. Após reclamações, o banco pede desculpas à população e aos movimentos ligados às causas raciais por não caracterizar o escritor com a sua origem racial

Por Época NEGÓCIOS Online

Reprodução/internet

A entidade estatal pediu desculpas por não retratar o escritor Machado de Assis como afro-descendente.

A Caixa Econômica Federal suspendeu um comercial que comemorava seus 150 anos, após receber críticas por ter retratado o escritor Machado de Assis como branco – sendo que o escritor era mulato. Isso não deixa de configurar atitude racista.

Este fato veio consubstanciar o estudo de João Amílcar Salgado que coligiu vários exemplos em que personagens negros da historia da medicina e de outras áreas são retratados cada vez mais brancos ao longo do tempo. Em Minas Gerais, os médicos negros Joaquim Soares Meireles, Francisco de Paula Cândido, Conde de Prados e Eduardo de Menezes (este é mineiro adotivo) sofreram e sofrem falsificação de branqueamento. O mesmo ocorre com o advogado mineiro Marquês de Sapucaí. Os médicos negros baianos Nina Rodrigues e Juliano Moreira sofreram e sofrem o mesmo. A propaganda da Caixa Econômica não é o primeiro episódio do gênero acontecido com Machado de Assis. Vale lembrar que os retratos dessas personagens têm sofrido dois retoques: o alisamento do cabelo e o branqueamento da pele

O estudioso iniciou tal levantamento depois que seu avô, João de Abreu Salgado, se deu conta da questão. Este último fora, em 1946, o primeiro biógrafo do sacerdote negro mineiro Padre Vítor (Francisco de Paula Vítor), para quem os devotos hoje reclamam a beatificação. O educador Abreu Salgado denunciou o pároco de Três Pontas, por sinal mulato, pela providência de mandar clarear a foto do Padre Vítor, quando da confecção da estampa a ser oferecida a romeiros no santuário de Aparecida do Norte, em 1959.

Evidências análogas passam a ser possíveis com o auxílio da internete, por facultar a exibição de imagens sucessivas e contrapostas da mesma pessoa. As mais escandalosas podem ser inferidas dos primeiros filmes de Holywood, que mostram brancos os egípcios, se confrontados com documentários atuais, quando são exibidas figuras mais fidedignas dos faraós, de fato todos negros. Não se pode esquecer também que a afronta inversa também existiu e continua existindo. Um exemplo foi o fato de que Monteiro Lobato enegreceu o Saci. Outro são os apelidos dados por radialistas a dois notáveis cantores negros mineiros: Blecaute e Noite-Ilustrada, sendo este portador de uma das três mais raras vozes entre cantores populares brasileiros.

A ofensa da Caixa a Machado se dá justamente quando o historiador João Amílcar Salgado prepara a reedição da primeira biografia do sacerdote negro Padre Vítor.