NÃO DEIXE DE VIR A MINAS EM NOVEMBRO
AQUI RESPIRAMOS HISTÓRIA E HUMANISMO
João Amílcar Salgado
Em Minas a história implora para ser capturada. Já o humanismo mineiro consiste na imensa curiosidade que a gente sente pela especificidade de cada ser humano. Isso traduz a famosa hospitalidade das alterosas. Se vier a Ouro Preto, para o 16º Congresso Brasileiro de História da Medicina, de
Tomás Gonzaga convidou uma ave a que percorresse a Estrada Real e voasse até a casa de sua amada: Toma de Minas a estrada, / Na Igreja nova, que fica / Ao direito lado, e segue / Sempre firme a Vila Rica. // Entra nesta grande terra, / Passa uma formosa ponte, / Passa a segunda, a terceira / Tem um palácio defronte. // Ele tem ao pé da porta / Uma rasgada janela, / É da sala, aonde assiste / A minha Marília bela.
Atenda ao convite do poeta e a seguir procure a rua Gorceix. Ali você posará para uma foto na ruína do Real Hospital Militar, onde também houve aula do referido curso e onde o cirurgião Luís Gomes Ferreira, décadas antes, fez dissecção anatômica. Ferreira é o autor do ERÁRIO MINERAL, o primeiro manual de clínica da crônica médica brasileira, de 1735. Perto dali você posará para outra foto defronte à casa onde se hospedou o Conde de Assumar, o repressor, que, logo no alvorecer da província, disse a frase lapidar: Minas tem por brio ser livre; o ar que se respira aqui é o da liberdade. E disse outra: A terra evapora tumultos; a água exala motins; destilam liberdade os campos; o clima é tumba da paz e berço da rebelião.
Visite a Escola de Farmácia, e seu Centro de Memória, onde se formaram farmacêuticos para todos os confins do Brasil. E estes não só levaram consigo o excelente preparo profissional, mas disseminaram o humanismo mineiro aos quatro cantos. O mesmo fez a citada Escola de Minas, onde, antes de realizar o maior feito da ciência brasileira, Carlos Chagas iniciou sua formação superior. Visite os locais referenciais dos inconfidentes e saiba que entre eles havia médicos e cirurgiões. Mais que isso, os estudantes de medicina brasileiros de Montpellier foram os ativistas das sucessivas inconfidências brasileiras. E o próprio Tiradentes era não apenas um dentista popular, mas um terapeuta de cuidados primários. Este herói de todos os brasileiros usava e sabia muito de nossa flora medicinal, competência adquirida junto a seu primo que era o maior botânico brasileiro da época – frei José Mariano Xavier Veloso, autor do clássico FLORA FLUMINENSE.
Saiba que, por meio de tais sugestões, que são um abraço inicial de confraternização, cada visitante reconhecerá por que a história mineira da medicina inclui não só cientistas e pesquisadores como Lund, Basílio Furtado, Chagas, Vital Brasil, Baeta Viana, Pedro Sales, Wilson Beraldo, Bogliolo, Marcelo Campos-Christo e Ângelo Machado, mas figuras como Juscelino Kubitschek (o imortal governante brasileiro), Guimarães Rosa (o mais original prosador da língua), Pedro Nava (o maior memorialista lusófono), Antônio da Silva Melo (o incrível polígrafo), Agripa Vasconcelos (o sedutor romancista, também poeta) e Joubert de Carvalho (o consagrado musicista de TAÍ).
Venha a Minas para conversarmos sobre tudo isso e coisas mais. Por exemplo, de que doença padeceu o Aleijadinho? Sim, prosa culta ou jogada fora e ainda causos picarescos, acompanhados da cachaça-de-alambique e da comida-da-roça, não faltarão ao rabo de nosso fogão-de-lenha colonial.
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