domingo, 22 de novembro de 2009

NOBEL A CHAGAS EM DEBATE respeitoso

João Amílcar Salgado

- Os debates democráticos, que chegaram a acalorados mas não desrespeitosos, ocorridos ontem, 16-11-09, na reunião da Academia Mineira de Medicina, mostram que, num momento tão próximo do final das comemorações do centenário da descoberta da doença de Chagas, persiste a tendência, observada desde a morte de Oswaldo Cruz, de se punir Carlos Chagas pela ousadia de ser gênio, num país eivado de recalques coloniais. E seus detratores de ontem e de hoje persistem na tendência em considerar tal ousadia ainda mais afrontosa já que manifestada por um caipira mineiro.

- É de todo lamentável a confirmação da divisão, também já verificada desde bem antes, de detratores não-mineiros versus defensores mineiros. Isso ficou evidente quando outro mineiro, Vital Brasil foi ontem desaforadamente acusado de cobiça financeira.

- Infelizmente o tempo disponível não permitiu que se discutisse a frustração da premiação Nobel de Chagas, comparada com outras igualmente frustradas, como a de César Lattes, Josué de Castro e Helder Câmara, sendo que o prêmio chegou mais perto não destes, mas de Mário Pinotti, exatamente na área da saúde, por seu estalo de Vieira (como ele mesmo dizia) de ter alegadamente criado a sal cloroquinado e o reboco das cafuas com estrume.

- Outro dado que o tempo não permitiu discutir foi a recentíssima premiação de Barack Obama, que contrasta com a sabida pressão de Harvard em favor de Chagas. Teríamos mostrado que Harvard, na época, não tinha, para os escandinavos, a imagem e a força que tem hoje. Na exposição que fiz, em 1999, fiz um histórico de prêmios Nobel dentro e fora da medicina, pormenorizando as controvérsias. Detive-me especialmente nos escândalos de Roentgen (logo o primeiro premiado) versus Lenard, Cajal versus Golgi e, principalmente, a absurda premiação de MacCleod, em detrimento de Best, pelo isolamento da insulina.

- Outra tendência que parece ganhar corpo é o velho truque de demarcar referencias bibliográficas consideradas confiáveis pelos detratores, daí decorrendo a desqualificação das referências apresentadas pelos defensores. No caso, com o agravante de deslocar para a Argentina e o Uruguai a localização de fontes insuspeitas. Com três pesquisadores mineiros, ligados a Manguinhos, Amílcar Viana Martins, José de Noronha Peres e José Pellegrino, discuti a negativa do premio a Chagas, desde antes de 1961, sem que nunca tivessem vinculado o tema a autores argentinos ou uruguaios. Pelo contrário, quase sempre manifestavam reservas em relação aos retardatários do Cone Sul, exceto os chilenos. Essas reservas se confirmaram afinal quando do lançamento do que seria o primeiro medicamento contra nosso tripanosoma, plenamente aprovado por eles e desaprovado pelos pesquisadores mineiros, e quando da autorização para imunosupressivos a chagásicos.

Como conclusão maior, resta a sugestão de sincero esforço profilático contra os desvios tendenciosos e da busca de ângulos ainda não utilizados ao longo de décadas de debate.

Em tempo. Mais uma sugestão: seria lamentável qualquer êxito na tentativa de aloirar o “acobreado” Carlos Chagas.

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