sexta-feira, 4 de junho de 2010

FRANCISCO DE MELO FRANCO

Do sertão de Paracatu a astro europeu

João Amílcar Salgado

Nasce em Paracatu, Minas, em 1757. Admitido em Medicina em Coimbra em 1776. É acorrentado por quatro anos pela Inquisição, acusado de irreligiosidade. Retoma o curso em 1782. Escreve sátira contra a Universidade em versos perfeitos, intitulada O REINO DA ESTUPIDEZ (1785), que causa a substituição do reitor. Diplomado em 1786, casa-se com a mulher antes presa com ele como testemunha de acusação. Torna-se médico famoso e rico. Empresta e perde toda a sua considerável fortuna. Como médico da corte, acompanha a princesa Leopoldina ao Brasil. No Rio é ignorado, fica doente e vai para São Paulo, onde tem parentes e é ridicularizado por propor a novidade da vacina contra a varíola. Resolve voltar a Portugal, mas, pressentindo que não suportaria a viagem, pede para desembarcar perto de Ubatuba e morre solitário numa palhoça caiçara, em 1823.

Na masmorra escreveu os poemas NOITES SEM SONO (1781) e depois a sátira citada. A seguir: RESPOSTA AO FILÓSOFO SOLITÁRIO 1 e 2 (1787), TRATADO DA EDUCAÇÃO FÍSICA DOS MENINOS PARA USO DA NAÇÃO PORTUGUESA (1790), MEDICINA TEOLÓGICA (1794), OPÚSCULOS SOBRE A VACINA (1814) e ENSAIOS SOBRE AS FEBRES (1824). O eminente pediatra mineiro Martinho da Rocha (no livro NOSSO PRIMEIRO PUERICULTOR (1946)) o proclama pioneiro mundial em puericultura, com seu Tratado de Educação Física. Assim, dá início ao brilho da pediatria de Minas que passa pelo mesmo Martinho e prossegue com Álvaro Aguiar, Valter Teles, Leonel Gonzaga, Navantino Alves, Edward Tonelli, Archimedes Teodoro, José Geraldo Leite Ribeiro, Paulo Pimenta de Figueiredo, Luciano Peret Filho, Antônio Márcio Lisboa, Leonardo Falci Mourão e outros, culminando com o feito da maior carga horária pediátrica do mundo, inspirada no carisma de Ênio Leão, adotada na reforma do ensino de 1975, na Universidade Federal de Minas Gerais.

Estudiosos indicam que, na Medicina Teológica, Francisco de Melo Franco antecipa idéias de Freud. Como especialista em pedagogia médica, o proclamamos primeiro grande pedagogo médico brasileiro, por sua sátira ao ensino coimbrão. Nesta área foi o dianteiro de outros mineiros, como Antonio Gonçalves Gomide, Antonio da Silva Melo e contemporâneos, que dão primazia a Minas no ensino médico. É também vanguardeiro de um rol de médicos mineiros, notáveis como escritores (poesia e prosa): o mesmo Silva Melo (cintilante polígrafo), Pedro Nava (o maior memorialista lusófono), Guimarães Rosa (o mais original prosador do idioma), Paulo Pinheiro Chagas (invejável orador e escritor), João Antônio Avelar (criativo escritor, teatrólogo e humorista) e outros.

APRESENTADO NO 23º CONGRESSO NACIONAL DA SOBRAMES, EM OURO PRETO, JUNHO 2010

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