sexta-feira, 4 de junho de 2010

MACHADO DE ASSIS E BELMIRO BRAGA

João Amílcar Salgado

Entre os múltiplos aspectos biográficos de Machado de Assis, não pode deixar de ser lembrada a admiração que o poeta mineiro Belmiro Braga dedicou ao escritor carioca. O próprio livro de memórias de Belmiro Braga traduz essa admiração no título: DIAS IDOS E VIVIDOS, derivado do célebre soneto de Machado à esposa Carolina.

Belmiro, um simples balconista do interior mineiro, acompanhava tudo sobre Machado, inclusive a data de seu aniversário. Em 1891 não resistiu ao impulso de ousar cumprimentá-lo por meio de uma carta e um poema, enviados para chegar antes do natalício, 21 de junho. Talvez o missivista fosse a única ou das poucas pessoas a lembrar-se da data. Isso pode ter sensibilizado ainda mais o esplêndido prosador, desencadeando sincera admiração mútua.

Os delicadíssimos versos que acompanhavam a carta começam assim: “Quando ela fala, parece / que Deus é que anda a escutá-la. / A natureza emudece, / quando ela fala.” Em 24 de junho, Machado responde: “Meu caro poeta. Recebi e agradeço-vos muito de coração a carta ....” ... “É doce ao espírito saber que um eco responde ao que ele pensou, e mais ainda se o pensamento, trasladado ao papel, é guardado entre as coisas mais queridas de alguém.” ... “Amigo muito agradecido, Machado de Assis.

Mais extraordinário que a circunstância do início da correspondência entre ambos é o fato de que nunca se encontraram presencialmente. Belmiro se deslocava freqüentemente de Minas para o Rio, com o objetivo de adquirir mercadorias de atacadistas. Ficava rondando a casa de Machado, observando tudo, sem coragem de chegar. Um dia Machado saiu de casa e tomou o bonde. Belmiro quase aproveitou esta oportunidade de se apresentar, mas a timidez foi maior. Sentou-se mais atrás e acompanhou oculto todo o passeio de seu mestre. E isso se repetiu em outras viagens.

Sobre a morte de Machado, diz o próprio Belmiro Braga: “Quando morreu, o meu retrato foi encontrado sobre a sua mesa, um amigo mandou-me flores retiradas de seu féretro e dois oradores, dando-lhe o último adeus, referiram-se ao meu nome...” Antes Belmiro enviara-lhe carta consolando-o da ausência de Carolina. Machado respondeu: “E já que se referiu na sua carta à Carolina, mando-lhe estes versos que acabo de compor.” Completa Belmiro: “E mandou-me o soneto À CAROLINA, que conservo entre os papéis que mais prezo... E eu, que o vi tantas vezes, que o admirava tanto e que tanto lhe queria, nunca tive ânimo de dizer-lhe quem era e de apertar-lhe a mão...”

Um comentário:

Unknown disse...

Meu prezado Escritor, Doutor, Primo Amilcar,
Desculpe-me por usar este espaço (não achei seu email...) para lhe enviar meu grande abraço nesta noite quando será empossado como Acadêmico Honorário da Academia Mineira de Medicina.
Meu dever e prazer de avó me impedem de sair de casa neste momento.
Muito obrigada pela lembrança de seu convite.
Parabéns e siga nos informando e educando sobre nossos ilustres conterrâneos.
Com admiração,
Vera Lúcia

Em tempo - que singeleza de Belmiro Braga com sua timidez...